segunda-feira, 19 de março de 2012

Quebra de paradigmas da sociedade: O valor do rap


Bom dia a todos,



Hoje iremos discorrer acerca de um problema que, por mais que se revele arcaico, ainda existe na sociedade brasileira: o pré-conceito com base em uma condição pessoal.

Explico:

Houve um tempo em que a mulher se mostrava como aquela figura frágil e caseira, que necessitava invariavelmente do marido para a realização de seus misteres, que eram tão somente cuidar da casa e dos filhos. Entretanto, a sociedade evoluiu, e mais ainda as mulheres que buscaram seu espaço perante a sociedade e a cada dia mais se inserem no mercado de trabalho e na política, não sendo raros os casos de mulheres bem sucedidas. Cito o exemplo da nossa presidenta. Já se passou a época em que a mulher sequer tinha direito ao voto, atualmente inclusive somos governados por uma representante delas.

Da mesma forma os negros, que não só no Brasil, mas em outros países como Estados Unidos e África do Sul sofreram com a escravidão, aqui por praticamente quatrocentos anos, onde foram humilhados, açoitados, entre outra série de barbáries sabidas por nós. Ainda assim, não se deixaram abater, buscando seu espaço geração após geração e hoje, com a ajuda de políticas afirmativas do Governo Federal, se aproximam a tão sonhada igualdade de oportunidades. Já se acreditou que a raça negra não possuía alma; hoje, o homem mais poderoso do mundo é negro.

Cumpre também destacar o papel do jovem, por longo interregno de tempo preterido por lhe faltar experiência, constantemente têm se colocado na sociedade de maneira ímpar, suprindo com inteligência, criatividade, e muita força de vontade a pouca “maturidade”. Não são poucos os profissionais com atividades respeitáveis a exemplo de advogados, médicos, políticos e etc., que contam com idade inferior a trinta anos.

Diante desse quadro, não consigo ver justo motivo para essa oposição exacerbada que ocorre em relação aos rappers. Tenho visto um preconceito forte em relação a esse gênero de música e o vejo como completamente infundado.

Se as letras são fortes e em determinado ponto agressivas, há que se levar em consideração o ponto em que pretendem tocar. Por acaso algum juiz ou advogado da área penal não precisam versar sobre pontos deplorativos? É inexorável essa necessidade. Para resolver um crime, por exemplo, de estupro, se precisarão discutir os mais sórdidos detalhes, ainda que afete o pudor de outrem.

Da mesma forma ocorre com o rap. Se existe a necessidade do rapper em relatar os acontecimentos que causam uma série de estragos em sua comunidade para conscientizar os ouvintes de seu trabalho sobre sua ideologia, resta indubitável que a intenção do mesmo é melhorar a sociedade, portanto, é um motivo nobre a justificar o apelo de suas palavras.

O grande problema é que as pessoas que criticam este tipo de trabalho nunca procuraram se inteirar de como ele é feito e qual é o seu papel. Julgam o rap prejudicial à sociedade pelo simples fato de acreditarem cegamente que um indivíduo que o canta via de regra não tem estudo e, portanto, “não deve ser inteligente”.

É como diz o ditado popular: todo pré-conceito é burro.

Não canso de citar o exemplo do Sr. Carlos Eduardo Taddeo, mais conhecido como Eduardo, do Grupo Facção Central. Trata-se de um indivíduo inteligentíssimo, que tem uma visão política bem fundamentada, e que conduz suas filhas e os ouvintes de seu trabalho a evitarem os caminhos ruins (principalmente o crime), de acesso fácil, e busquem aprimorar-se enquanto cidadãos e empenhar-se em prol do seu espaço na sociedade. Li em uma entrevista sua sobre uma grande “correria” que suas herdeiras fizeram para conseguir um livro emprestado na biblioteca pública (que em São Paulo existe uma para cada um ou dois milhões de habitantes). Nos dias atuais, onde a maioria das crianças só querem saber de videogame, big brother, e várias outras coisas que em nada somarão suas vidas, é simplesmente lindo ver pequenas cidadãs com vontade de aprender e de ganhar o mundo através da leitura. Que sirva de exemplo esse homem que teve uma infinidade de portas fechadas, lhe negando oportunidade, e além de conquistar através de estudo, ainda que informal, uma condição pessoal privilegiada (já informei sobre a inteligência do mesmo), leva suas filhas e todos os demais fãs de seu trabalho a trilharem o caminho do bem.

Uma passagem de uma música de sua autoria, em conjunto com o Sr. Washington Roberto Santana, mais conhecido como Dumdum, diz assim:

“O sistema tem que chorar, mas não com você matando na rua, o sistema tem que chorar vendo a sua formatura”.

Veja que ele coloca de forma indelével seu objetivo de retirar pessoas do crime para trazê-la ao caminho do estudo. Se o faz de modo agressivo, é por conta da própria sociedade, que não perceberia sua voz não sendo desse modo. Minha mãe sempre me ensinou, desde pequeno, que a intenção é que vale.

Então antes de permitir que minha filha escute músicas sem consistência, como as que cantam Kelly Key, Wanessa Camargo, Harmonia do Samba, e outras porcarias (me perdoem a palavra), prefiro que escute rap e fique ciente de que o mundo oferece dois caminhos: o crime e o estudo, sendo o primeiro o caminho da perdição, largo e curto, e o segundo o do bem, onde se pode conquistar respeito de verdade.

Nem quero aqui entrar no mérito do funk, que atualmente tem se revelado um verdadeiro lixo cultural, onde estão proliferados de duas formas: o de apologia ao sexo, cantados por Mc’s tipo K9, Luan, Hawaianos, Gaiola das popozudas e etc., e de apologia verdadeira ao crime, como Smith, Orelha, e outros ligados ao PCC.

Veja que se falo de cada destes, não o faço de maneira cética e pré-conceitual, já escutei todos esses estilos musicais sobre os quais verso agora.

Diante de todo o exposto, resta claro que um indivíduo pobre e sem estudo pode sim ser extremamente inteligente e dotado de conhecimentos gerais avançados. Mais um paradigma sendo quebrado.

Estou ciente de que minha posição é polêmica e já tem rendido uma série de debates, mas continuo firme em relação a ela. Torço sinceramente para que um dia a sociedade conheça primeiro do que pretende opinar, sob pena de continuarmos cometendo injustiças.

Um grande e fraterno abraço.



Att.,

William

Um comentário:

  1. É bem verdade mano. O rap salva. Vários caras ouvem no rap depoimento de gente que já teve na vida do crime e se estrepou, daí percebe que tá errado. É que nem aprender com pessoa mais velha, sempre sai coisa boa.

    Paz irmão.

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