Bom dia a todos,
Hoje iremos discorrer acerca de um problema que, por
mais que se revele arcaico, ainda existe na sociedade brasileira: o pré-conceito
com base em uma condição pessoal.
Explico:
Houve um tempo em que a mulher se mostrava como aquela
figura frágil e caseira, que necessitava invariavelmente do marido para a
realização de seus misteres, que eram tão somente cuidar da casa e dos filhos.
Entretanto, a sociedade evoluiu, e mais ainda as mulheres que buscaram seu
espaço perante a sociedade e a cada dia mais se inserem no mercado de trabalho
e na política, não sendo raros os casos de mulheres bem sucedidas. Cito o
exemplo da nossa presidenta. Já se passou a época em que a mulher sequer tinha
direito ao voto, atualmente inclusive somos governados por uma representante
delas.
Da mesma forma os negros, que não só no Brasil, mas em
outros países como Estados Unidos e África do Sul sofreram com a escravidão,
aqui por praticamente quatrocentos anos, onde foram humilhados, açoitados,
entre outra série de barbáries sabidas por nós. Ainda assim, não se deixaram
abater, buscando seu espaço geração após geração e hoje, com a ajuda de
políticas afirmativas do Governo Federal, se aproximam a tão sonhada igualdade
de oportunidades. Já se acreditou que a raça negra não possuía alma; hoje, o
homem mais poderoso do mundo é negro.
Cumpre também destacar o papel do jovem, por longo
interregno de tempo preterido por lhe faltar experiência, constantemente têm se
colocado na sociedade de maneira ímpar, suprindo com inteligência,
criatividade, e muita força de vontade a pouca “maturidade”. Não são poucos os
profissionais com atividades respeitáveis a exemplo de advogados, médicos,
políticos e etc., que contam com idade inferior a trinta anos.
Diante desse quadro, não consigo ver justo motivo para
essa oposição exacerbada que ocorre em relação aos rappers. Tenho visto um
preconceito forte em relação a esse gênero de música e o vejo como
completamente infundado.
Se as letras são fortes e em determinado ponto
agressivas, há que se levar em consideração o ponto em que pretendem tocar. Por
acaso algum juiz ou advogado da área penal não precisam versar sobre pontos deplorativos?
É inexorável essa necessidade. Para resolver um crime, por exemplo, de estupro,
se precisarão discutir os mais sórdidos detalhes, ainda que afete o pudor de
outrem.
Da mesma forma ocorre com o rap. Se existe a
necessidade do rapper em relatar os acontecimentos que causam uma série de
estragos em sua comunidade para conscientizar os ouvintes de seu trabalho sobre
sua ideologia, resta indubitável que a intenção do mesmo é melhorar a
sociedade, portanto, é um motivo nobre a justificar o apelo de suas palavras.
O grande problema é que as pessoas que criticam este
tipo de trabalho nunca procuraram se inteirar de como ele é feito e qual é o
seu papel. Julgam o rap prejudicial à sociedade pelo simples fato de
acreditarem cegamente que um indivíduo que o canta via de regra não tem estudo
e, portanto, “não deve ser inteligente”.
É como diz o ditado popular: todo pré-conceito é
burro.
Não canso de citar o exemplo do Sr. Carlos Eduardo
Taddeo, mais conhecido como Eduardo, do Grupo Facção Central. Trata-se de um
indivíduo inteligentíssimo, que tem uma visão política bem fundamentada, e que
conduz suas filhas e os ouvintes de seu trabalho a evitarem os caminhos ruins
(principalmente o crime), de acesso fácil, e busquem aprimorar-se enquanto
cidadãos e empenhar-se em prol do seu espaço na sociedade. Li em uma entrevista
sua sobre uma grande “correria” que suas herdeiras fizeram para conseguir um
livro emprestado na biblioteca pública (que em São Paulo existe uma para cada
um ou dois milhões de habitantes). Nos dias atuais, onde a maioria das crianças
só querem saber de videogame, big brother, e várias outras coisas que em nada
somarão suas vidas, é simplesmente lindo ver pequenas cidadãs com vontade de
aprender e de ganhar o mundo através da leitura. Que sirva de exemplo esse
homem que teve uma infinidade de portas fechadas, lhe negando oportunidade, e
além de conquistar através de estudo, ainda que informal, uma condição pessoal
privilegiada (já informei sobre a inteligência do mesmo), leva suas filhas e
todos os demais fãs de seu trabalho a trilharem o caminho do bem.
Uma passagem de uma música de sua autoria, em conjunto
com o Sr. Washington Roberto Santana, mais conhecido como Dumdum, diz assim:
“O sistema tem que chorar, mas não com você matando na
rua, o sistema tem que chorar vendo a sua formatura”.
Veja que ele coloca de forma indelével seu objetivo de
retirar pessoas do crime para trazê-la ao caminho do estudo. Se o faz de modo
agressivo, é por conta da própria sociedade, que não perceberia sua voz não
sendo desse modo. Minha mãe sempre me ensinou, desde pequeno, que a intenção é
que vale.
Então antes de permitir que minha filha escute músicas
sem consistência, como as que cantam Kelly Key, Wanessa Camargo, Harmonia do
Samba, e outras porcarias (me perdoem a palavra), prefiro que escute rap e
fique ciente de que o mundo oferece dois caminhos: o crime e o estudo, sendo o
primeiro o caminho da perdição, largo e curto, e o segundo o do bem, onde se
pode conquistar respeito de verdade.
Nem quero aqui entrar no mérito do funk, que
atualmente tem se revelado um verdadeiro lixo cultural, onde estão proliferados
de duas formas: o de apologia ao sexo, cantados por Mc’s tipo K9, Luan,
Hawaianos, Gaiola das popozudas e etc., e de apologia verdadeira ao crime, como
Smith, Orelha, e outros ligados ao PCC.
Veja que se falo de cada destes, não o faço de maneira
cética e pré-conceitual, já escutei todos esses estilos musicais sobre os quais
verso agora.
Diante de todo o exposto, resta claro que um indivíduo
pobre e sem estudo pode sim ser extremamente inteligente e dotado de
conhecimentos gerais avançados. Mais um paradigma sendo quebrado.
Estou ciente de que minha posição é polêmica e já tem
rendido uma série de debates, mas continuo firme em relação a ela. Torço
sinceramente para que um dia a sociedade conheça primeiro do que pretende
opinar, sob pena de continuarmos cometendo injustiças.
Um grande e fraterno abraço.
Att.,
William
É bem verdade mano. O rap salva. Vários caras ouvem no rap depoimento de gente que já teve na vida do crime e se estrepou, daí percebe que tá errado. É que nem aprender com pessoa mais velha, sempre sai coisa boa.
ResponderExcluirPaz irmão.